sexta-feira, 29 de junho de 2012

"Porque foge o Investimento" por Celeste Cardona


Como reagiria um investidor privado a quem se sugere que invista numa empresa em que a dívida representa mais de cinco anos de volume de negócios, em que as perdas anuais são superiores a metade do volume de negócios e em que os pedidos de empréstimos anuais ultrapassam o volume de negócios? Esta pergunta é formulada por um especialista e não está direccionada para o nosso país. Mas os pressupostos das questões podem ser-nos aplicáveis, e a resposta que é dada por este autor é absolutamente idêntica à que nós daríamos: fugiria!
Vou um pouco mais longe! Tal como o quadro europeu se apresenta neste momento, não sei se esta "fuga" não seria mesmo para lá das fronteiras europeias, talvez com excepção de alguns (poucos) países do continente.
Devo, aliás, referir que este movimento não é apenas de agora. Durante muitos e muitos anos, a Europa, que após o final da Segunda Guerra procedeu à sua reconstrução, alargou os espaços da sua influência, beneficiou de grandes volumes de fundos financeiros, aboliu as fronteiras, fez cair o Muro de Berlim, unificou a Alemanha, intensificou o eixo Berlim-Paris, criou condições (únicas) para o desenvolvimento e a sustentabilidade do Estado social e, sobretudo, deu início e intensificou o processo de integração europeia, com a criação do mercado único e, qual cereja em cima do bolo, com a introdução e circulação do euro nos países da respectiva zona.
Enquanto isso, o mundo foi mudando! A indústria deslocalizou-se, os preços das matérias- -primas iam aumentando, a globalização quer da produção, da distribuição e da circulação foi fazendo o seu caminho.
Os chamados países "emergentes" (emergentes?) foram crescendo, aumentando o volume da sua produção de bens e serviços, aplicando os seus recursos financeiros nas economias "em vias de insolvência", criando condições para os melhores e os mais bem preparados exercerem as suas actividades (científicas e tecnológicas) nesses países.
O crescimento económico e o desenvolvimento mudaram de rota!
Apesar de tudo, a fome diminuiu, as doenças foram sendo combatidas, os milhões de seres humanos a viverem em condições que os ocidentais repudiam e rejeitam foram sendo paulatinamente melhoradas. A população mundial, no seu conjunto, "ganhou" melhores condições de vida!
Como sucedeu tudo isto? Pois, muito simplesmente porque à medida que outros iam ganhando competitividade e produtividade nas áreas industriais, métodos de exploração e de rentabilidade das suas matérias-primas, capacidade de exportação quer de bens e serviços quer de fundos financeiros, bem como de captação e de "importação" das actividades até então realizadas no continente, nós por cá fomos assistindo...
Hoje, a Europa não faz! Compra tudo feito! É, naturalmente, uma afirmação, a precedente, que deve ser entendida como uma "provocação" (é este o significado que lhe quero dar). Em todo o caso, talvez valha a pena pensar nisto...
Mas, retomando, a pergunta inicial, diríamos que o dito empresário a quem era apresentada a empresa naquelas condições, para nela investir, fugia, justamente, para um país em que as empresas não tivessem chegado àquele ponto.
Quem aplica o seu dinheiro e os seus recursos quer o retorno do seu investimento.
Como? Pois, só para citar alguns exemplos, num país em que as leis não mudem todos os dias, em que os tribunais desempenhem as suas funções de soberania de forma célere e eficiente, em que os sistemas de licenciamento e de procedimentos aplicáveis não se mostrem "inimigos" do investimento, em que a compreensão e o conhecimento dos quadros normativos e operativos não se tornem "um labirinto", em que a mobilidade e a flexibilidade das relações laborais possam ser assu- midas como elementos de estabilidade e em que os sistemas fiscais sejam simples, duradouros e de fácil cumprimento.
Conhecemos, conhecemos todos, países com estas características. É para lá que os empresários "fogem".

Fonte: Diário de Noticias

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