quinta-feira, 23 de agosto de 2012

'Se isto corre mal, corre mal para todos: PSD e CDS'



José Ribeiro e Castro, deputado e ex-líder do CDS , alerta que o «tacticismo» do seu partido é «perigoso» e que Paulo Portas é co-responsável por todas as decisões tomadas em Conselho de Ministros.

Como se sente no meio de um grupo parlamentar de 'portistas'?
Sou um deputado entre muitos bons deputados que o CDS tem. Tenho dado o meu contributo. Não sei se é apreciado. As críticas que faço têm a ver com o trabalho colectivo. Acho que devemos reunir mais e com a agenda aberta. Melhoraria significativamente a união e a qualidade do partido.

Como é a sua relação com o líder do CDS?
Boa. Está cá pouco, é ministro. Obviamente que na anterior legislatura encontrávamo-nos mais vezes do que agora.

Acha que Portas está mais preocupado em ser ministro dos Negócios Estrangeiros do que líder de um dos partidos da coligação?
Acho que esta lenda de que ele está mais fora é uma ilusão. Obviamente nunca está fora. Está sempre no exercício de funções. Está-se sempre a governar Portugal, esteja-se em Lisboa, Bruxelas ou Nova Iorque. Não tenho dúvida nenhuma de que está em contacto permanente com o primeiro-ministro e o ministro das Finanças e de que as decisões são partilhadas mesmo quando, por razões da sua pasta, não participa em reuniões do Conselho de Ministros. As decisões não são tomadas in absentia. O CDS está de corpo inteiro na coligação. Não está a meia haste e qualquer percepção nesse sentido seria muito negativa. Seria uma pesada ilusão que nós estivéssemos a pensar nas eleições. Eu adiro a 100% ao desabafo do primeiro-ministro ‘que se lixem as eleições’.

Acha que o CDS não está na mesma sintonia?
Acho que tem que estar. É uma ilusão pensar diferentemente. Das duas, uma: ou isto corre bem ou isto corre mal. Se isto corre mal, corre mal para todos. É impossível correr bem só para o CDS. Se corre bem, então vai correr melhor para aquele que for identificado como tendo tido mais entrega e mais capacidade de sacrifício. Seria muito mau para o CDS se numa altura em que isto corresse bem, como desejamos, as pessoas pudessem dizer que foi Passos Coelho e o PSD que se sacrificaram mais. Por isso, esta ilusão é perigosa. Esse exercício jornalístico não surge por acaso. Traduzirá algum ruído, alguns comentários e preocupações, mas essas preocupações de tacticismo são menores e acredito que o CDS tem que continuar a dar mostras de que quer governar para as próximas gerações e não para as próximas eleições. Mas tem também que fazer o discurso da outra margem. É preciso transmitir às pessoas um sentido de rumo com mais convicção e clareza.

O PS deveria integrar o Governo de modo a reforçar o consenso político? Portas encontrou-se ainda recentemente com Seguro.
Devo dizer que não gostei da notícia. Para almoço secreto, não foi secreto. Acho normal que dois líderes políticos se encontrem, mas a notícia é dada com uma certa intencionalidade de que há aqui uma frente de diálogo autónoma. Se isso fosse verdade, minaria a coesão da coligação. Numa coligação, o diálogo dos líderes com terceiros é concertada. Não me passa pela cabeça que o primeiro-ministro não soubesse. Quanto ao alargamento da coligação ao PS, não julgo indispensável e até seria negativo. Mas é indispensável diálogo aberto com o maior partido da oposição sobre grandes reformas de fundo, política europeia, revisão constitucional.

Deve ser feita nesta sessão legislativa uma revisão constitucional profunda, como o CDS e o PSD já defenderam no passado?
Surpreendeu-me muito que, nas reacções ao acórdão do TC sobre o corte dos subsídios, ninguém suscitasse a questão óbvia: se a Constituição representa obstáculos à execução do memorando, então ajuste-se a Constituição. Esta questão deve ser posta em cima da mesa. Não defendo necessariamente uma reforma constitucional de substância, porque poderia levantar uma conflitualidade política que iria contra o próprio objectivo e bloquearia uma maioria de dois terços. Mas, pelo menos, pôr algumas questões sob parênteses rectos. Criar-se um regra de período de emergência, de excepcionalidade de algumas medidas enquanto o país estivesse sob assistência. Mas não passa pela cabeça de ninguém eliminar princípios de proporcionalidade e igualdade.

Acredita numa baixa de juros no empréstimo da troika, como prémio a Portugal?
Portugal merece isso. Os portugueses têm direito a essa medalha. A troika tem feito sempre avaliações positivas do desempenho do país ao longo de mais de um ano. Se estivéssemos nos mercados, receberíamos esse prémio. Por outro lado, o BCE baixou a taxa de referência para 0,75%. E seria um sinal importante de prestígio da troika junto da opinião pública.

Sentiu-se envergonhado com o 'puxão de orelhas' do PR aos deputados por fazerem leis mal feitas, como aconteceu com a das freguesias de Lisboa?
Não digo envergonhado, mas embaraçado. Infelizmente, o PR tem razão. Eu próprio, como presidente de uma comissão, já tive que intervir em dois casos. Mas, às vezes, o pior não é a qualidade formal mas substantiva das leis, cuja interpretação é muito difícil ou o texto se percebe mal.

O professor Marcelo criticou os deputados por terem dois meses de férias. Sente-se privilegiado?
Não temos dois meses de férias! Estivemos a trabalhar até 31 de Julho e começamos a 1 de Setembro. Não sei como era no tempo em que o professor era deputado, ou quando foi ministro dos Assuntos Parlamentares ou líder do PSD. Mas acho que trabalhamos mais agora que nessa altura.

Fonte: Sol

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