terça-feira, 28 de agosto de 2012
Proclamações e recursos por Adriano Moreira
A Assembleia do Rio+20, que anunciava uma janela de esperança para responder a vários dos problemas que tornam imprevisível o futuro sustentável da humanidade, tem, pelo contrário, suscitado uma acumulação crescente de desilusões, críticas, pessimismos.
Tratando-se de uma conferência da ONU sobre o desenvolvimento, inspirou brilhantes e inspirados discursos dos representantes dos poderes do mundo que desfilaram pela tribuna.
A ONU anunciou que os compromissos em favor do desenvolvimento sustentável se elevam a 408 mil milhões de euros, tudo protegido pelo "princípio da não regressão", isto é, que os compromissos nos domínios da proteção ambiental não podem ser abandonados, embora juristas prudentes entendam que se trata, em geral, de afirmação de princípios e não de deveres jurídicos assumidos. Quer neste caso quer no que toca, apenas como exemplo, aos Objetivos do Milénio, os montantes financeiros envolvidos parecem assim corresponder apenas a um cálculo de custos, ficando por considerar a relação que este tem com a crise financeira mundial e os recursos disponíveis que serão efetivamente postos à disposição dos objetivos.
Um pessimismo com fundamentos conhecidos e inegáveis provoca sérias dúvidas sobre a concretização das intenções ou princípios proclamados, em vista da penúria de recursos que faz dos Objetivos do Milénio uma lembrança generosa com escassas probabilidades de concretização. Uma dúvida que também abrange a situação europeia, que agora, em vez de uma coligação de dois aspirantes a uma posição diretiva, com diminuição ou esquecimento dos órgãos institucionais ao Tratado em vigor, parece ter sido chamada à moderação pela intervenção da voz da Espanha e da Itália, que não enriqueceram os recursos mas diminuíram o seguidismo que ameaça todos os princípios e desanimam todas as esperanças dos fundadores do projeto para a União.
A firmeza, sem a qual a esperança de melhores tempos fica mais desamparada, tem, em todo o caso, de lidar com atitude responsável com o canal da Mancha. Os discursos, os comentários, as declarações britânicas que encontram na história do canal uma inspiração parecem ser os que mais tratam a Europa como uma unidade: a Inglaterra e a sua relação com a Europa.
As dúvidas metódicas que o Governo inglês manifesta podem fazer supor que voltaram à leitura da Arte de bem Governar da senhora Margaret Thacher. Não passaram muitos anos depois que, despedida do poder, afastava o pessimismo de alguns sobre o triunfo da intervenção política que sustentara com vigor, afirmando que teria razão a longo prazo, porque vivemos mais tempo, temos mais saúde, temos mais dinheiro, trabalhamos menos, e temos muitas maneiras de fruir os tempos livres.
Acrescentava que o Ocidente tinha na consciência o peso de ter educado uma geração de dirigentes do Terceiro Mundo no credo socialista, de que resultou o empobrecimento dos povos. Os riscos dos juízos de certeza sobre um globalismo supercomplexo estão demonstrados pelos factos, sobressaindo o de a fronteira da pobreza ter ultrapassado o Norte do Mediterrâneo, ficando apenas vigentes e regressadas à meditação britânica as suas próprias considerações sobre o canal da Mancha: uma visão apoiada em duas entidades, a Inglaterra e a Europa.
Tendo sempre na memória, como opositor de relevo, o general De Gaulle, escreveu que, "por razões claramente da sua história e dos seus interesses, a Grã-Bretanha é realmente uma Nação substancialmente diferente das que se encontram envolvidas na "construção da Europa". A evolução do mundo, que compreensivelmente não abrange integralmente as suas sérias meditações, que a levavam por vezes a mostrar que punha a solidariedade com os EUA acima da Europa, privou-nos do que a sua sabedoria poderia acrescentar sobre a emergência das novas potências, sobre a brutal crise financeira e económica que tem os EUA na origem, e sobre o facto de que é o Ocidente que exige avaliação defensiva unitária. O canal da Mancha não inspira sempre a melhor visão.
Fonte: Diário de Noticias
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