O ex-presidente do CDS Adriano Moreira sublinha "o civismo extraordinário" com que os portugueses estão "a exprimir a sua queixa", mas alerta que "o cansaço da tributação" pode provocar uma "ruptura", sendo essencial cultivar "a confiança" entre Governo e cidadãos.
"Há uma coisa que é evidente: o civismo da população tem sido extraordinário. Penso que o cansaço da tributação começa a atingir a população. Porque isso afecta gravemente o nível de vida, os projectos de vida. Portanto, esse é um ponto a que é preciso tomar atenção muito séria. Porque o civismo demonstrado, mesmo as reclamações, os protestos que tem havido, são protestos institucionais, digamos. A população até tem vindo para a rua, mas não tem vindo com muita violência. É civicamente que a nação está a exprimir a sua queixa", sublinhou o histórico do CDS, em entrevista à agência Lusa a poucos dias de completar 90 anos, a 6 de Setembro.
Mas Adriano Moreira acrescenta que "é evidente que nunca se pode evitar que uma ruptura possa aparecer".
"É preciso muita atenção a isso, muita confiança entre o Governo e a população. Eu julgo que um dos grandes males da Europa neste momento é não apenas a falta de grandes lideranças, mas o facto de a confiança entre Governo e sociedade civil estar a ser afectada na Europa. E isso é uma das coisas a que é preciso prestar grande atenção", destacou.
Para Adriano Moreira, a coligação PSD/CDS-PP hoje no Governo "está provavelmente a fazer o que é possível" e sublinha que o Executivo português "não tem outro remédio neste momento a não ser cumprir as obrigações" assumidas internacionalmente no âmbito do programa de ajustamento financeiro.
O antigo líder do CDS insiste em que Portugal tem mesmo de recuperar a sua "credibilidade" e que "deve fazê-lo através deste caminho".
"Faço votos e espero que [o Governo] cumpra inteiramente o mandato e que não haja fissuras pelo caminho. Acho que na situação de debilidade em que o país está, e em vista das obrigações que assumiu, as pessoas podem não estar de acordo com as obrigações, mas elas foram assumidas e não era bom para o prestígio do país, para a credibilidade externa, que tivesse que mudar o Governo durante a legislatura", acrescentou.
Sobre a relação que mantém hoje com o CDS, que liderou de 1986 a 88 – para além de ter sido deputado do partido durante 14 anos –, insiste em que não mantém nem actividade nem intervenção política desde que deixou o Parlamento, mas acrescenta: "Sou, isso sim, talvez o único antigo presidente do CDS que nunca saiu do CDS."
Fonte: Público
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